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Do Clamor ao Altar: A Luta pela Missa Tridentina em Ribeirão Preto

“Tão forte é a Tradição que as gerações futuras sonharão com aquilo que elas nunca viram.”
— G.K. Chesterton

A história da Missa Tridentina em Ribeirão Preto não começa com padres ou decretos episcopais. Começa com um grupo pequeno de leigos, católicos comuns com uma sede incomum: redescobrir a Tradição da Igreja e restaurar o culto católico de sempre.

1. O Grupo de Estudos: O Início Silencioso

Em 2005, buscando argumentos para defender a fé católica em debates com protestantes, alguns jovens de Ribeirão Preto se aproximaram da Associação Montfort, em São Paulo. Com essa aproximação, conheceram pela primeira vez a Missa Tridentina — em Franca, Mococa, Restinga. Cada viagem era um ato de amor à fé.

Dali nasceu o Grupo de Estudos de Ribeirão Preto. Criaram o blog "Católicos de Ribeirão Preto" (hoje Dominus Est) para divulgar a doutrina e a história da Igreja. Mas o verdadeiro desejo era um só: trazer de volta a Missa de sempre para sua própria cidade.

2. Summorum Pontificum e a Batalha com a Cúria

Em 2007, com o Motu Proprio Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI, surgiu uma abertura legal. O grupo fez uma petição formal ao arcebispo Dom Joviano, acompanhada de abaixo-assinado. A resposta foi frustração.

De 2007 a 2011, enfrentaram o silêncio e os impedimentos burocráticos da Cúria local. Entregaram cartas, incluindo uma em latim e italiano para a Comissão Ecclesia Dei, relatando os abusos litúrgicos e a negativa do arcebispo. Organizaram uma Cruzada de Rosários, distribuíram terços, e contaram mais de 1700 rosários rezados.

Finalmente, em 28 de agosto de 2011, após quatro anos de pedidos, foi celebrada a primeira Missa Tridentina em Ribeirão Preto desde os anos 70, celebrada por um Frei nomeado pelo arcebispo. As Missas continuaram temporariamente na Igreja de São Benedito.

3. A Missa sem o Apostolado: A Contradição

Mas o entusiasmo se desfez. Apesar da forma tradicional, o espírito era modernista. O apostolado seguia liberal, e a doutrina era diluída. A Missa estava de volta, mas o resto parecia ausente. O grupo percebeu: a liturgia sem a doutrina é um corpo sem alma.

4. O Encontro com a FSSPX: O Novo Começo

A orientação veio do Padre Henryk: "Procurem a Fraternidade Sacerdotal São Pio X".

Em 14 de outubro de 2013, foi realizada a primeira reunião com o Pe. Rodolfo Vieira, da Missão de Passos/MG. A primeira Missa da FSSPX foi celebrada em 4 de novembro daquele ano, na casa de Gabriel. A segunda foi no Asilo Padre Euclides. Em pouco tempo, as visitas passaram a ser mensais.

O salão da Associação dos Militares da Reserva se tornou a nova sede temporária da Missão. Ali, os fiéis aprenderam a acolitar, montar e desmontar o altar, formar coros e treinar acólitos. Nada veio pronto. Casulas, velas, missais — tudo veio de doações, campanhas, vaquinhas e suor.

5. De Capela Improvisada a Esperança de Priorado

Com o avanço da Missão, surgiu a necessidade de um espaço permanente. Durante a pandemia, o salão ficou indisponível. Então veio a providência: a antiga estaçãozinha de Cravinhos, na fazenda da família de um fiel, foi restaurada e convertida em capela.

Ali se celebram Missas, se realizam batismos, confissões, funerais. Um lugar improvisado, mas repleto de zelo, onde o Sacrifício do Altar não cessou.

Hoje a Missão de Ribeirão Preto é assistida por padres da FSSPX. Passou a integrar a Casa Autônoma do Brasil, com o desejo de se tornar um priorado. Cada pedra, cada banco, cada viga da capela carrega o suor e a oração de católicos que não aceitaram o esquecimento da Tradição.

6. Do "Eles" ao "Nós"

Durante anos, a narrativa era sobre "eles": os que rezavam, viajavam e lutavam. Mas um dia, o "eles" virou "nós". Todos os que chegaram depois foram acolhidos por uma história viva, feita de sacrifício e esperança.

O site Legatum Vivum é nossa homenagem e nosso compromisso. Aqui registramos uma herança que recebemos lutando, rezando e celebrando. Porque não herdamos templos: herdamos cruzes, e aprendemos a carregá-las.

E a Missa continua.